lúpus colectivo


O direito ao delirio by they
outubro 9, 2009, 3:08 pm
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Já está nascendo o novo milênio. Não dá para levar muito a sério o assunto: afinal, o ano 2001 dos cristãos é o ano 1421 dos muçulmanos, o 5114 dos maias e o 5761 dos judeus. O novo milênio nasce num 1.º de janeiro por obra e graça de um capricho dos senadores do Império Romano, que um bom dia decidiram quebrar a tradição que mandava celebrar o ano-novo do começo da primavera. E a conta dos anos da era cristã deriva de outro capricho: um bom dia, o papa de Roma decidiu datar o nascimento de Jesus, embora ninguém saiba quando nasceu. O tempo zomba dos limites que lhe atribuímos para crer na fantasia de que nos obedece; mas o mundo inteiro celebra e teme essa fronteira.

Milênio vai, milênio vem, a ocasião é propícia para que os oradores de inflamado verbo discursem sobre os destinos da humanidade e para que os porta-vozes da ira de Deus anunciem o fim do mundo e o aniquilamento geral, enquanto o tempo, de boca fechada, continua sua caminhada ao longo da eternidade e do mistério.

Verdade seja dita, não há quem resista: numa data assim, por arbitrária que seja, qualquer um sente a tentação de perguntar-se como será o tempo que será. E vá-se lá saber como será. Temos uma única certeza: no século 21, se ainda estivermos aqui, todos nós seremos gente do século passado e, pior ainda, do milênio passado.

Embora não possamos adivinhar o tempo que será, temos, sim, o direito de imaginar o que queremos que seja. Em 1948 e em 1976, as Nações Unidas proclamaram extensas listas de direitos humanos, mas a imensa maioria da humanidade só tem o direito de ver, ouvir e calar. Que tal começarmos a exercer o jamais proclamado direito de sonhar? Que tal delirarmos um pouquinho? Vamos fixar o olhar num ponto além da infâmia para adivinhar outro mundo possível:

o ar estará livre de todo o veneno que não vier dos medos humanos e das humanas paixões;

nas ruas, os automóveis serão esmagados pelos cães;

as pessoas não serão dirigidas pelos automóveis, nem programadas pelo computador, nem compradas pelo supermercado e nem olhadas pelo televisor;

o televisor deixará de ser o mais importante membro da família e será tratado como o ferro de passar e a máquina de lavar roupa;

as pessoas trabalharão para viver, em vez de viver para trabalhar;

será incorporado aos códigos penais o delito da estupidez, cometido por aqueles que vivem para ter e para ganhar, em vez de viver apenas por viver, como canta o pássaro sem saber que canta e como brinca a criança sem saber que brinca;

em nenhum país serão presos os jovens que se negarem a prestar o serviço militar, mas irão para a cadeia os que desejarem prestá-lo;

os economistas não chamarão nível de vida o nível de consumo, nem chamarão qualidade de vida a quantidade de coisas;

os cozinheiros não acreditarão que as lagostas gostam de ser fervidas vivas;

os historiadores não acreditarão que os países gostam de ser invadidos;

os políticos não acreditarão que os pobres gostam de comer promessas;

ninguém acreditará que a solenidade é uma virtude e ninguém levará a sério aquele que não for capaz de deixar de ser sério;

a morte e o dinheiro perderão seus mágicos poderes e nem por falecimento ou fortuna o canalha será transformado em virtuoso cavaleiro;

ninguém será considerado herói ou pascácio por fazer o que acha justo em lugar de fazer o que mais lhe convém;

o mundo já não estará em guerra contra os pobres, mas contra a pobreza, e a indústria militar não terá outro remédio senão declarar-se em falência;

a comida não será uma mercadoria e nem a comunicação um negócio, porque a comida e a comunicação são direitos humanos;

ninguém morrerá de fome, porque ninguém morrerá de indigestão;

os meninos de rua não serão tratados como lixo, porque não haverá meninos de rua;

os meninos ricos não serão tratados como se fossem dinheiro, porque não haverá meninos ricos;

a educação não será privilégio de quem possa pagá-la;

a polícia não será o terror de quem não possa comprá-la;

a justiça e a liberdade, irmãs siamesas condenadas a viver separadas, tornarão a unir-se, bem juntinhas, ombro contra ombro;

uma mulher, negra, será presidente do Brasil, e outra mulher, negra, será presidente dos Estados Unidos da América; e uma mulher índia governará a Guatemala e outra o Peru;

na Argentina as loucas da Praça de Mayo serão um exemplo de saúde mental, porque se negaram a esquecer nos tempos da amnésia obrigatória;

a Santa Madre Igreja corrigirá os erros das tábuas de Moisés e o sexto mandamento ordenará que se festeje o corpo;

a Igreja também ditará outro mandamento, do qual Deus se esqueceu: “Amarás a natureza, da qual fazes parte”;

serão reflorestados os desertos do mundo e os desertos da alma;

os desesperados serão esperados e os perdidos serão encontrados, porque eles são os que se desesperaram de tanto esperar e os que se perderam de tanto procurar;

seremos compatriotas e contemporâneos de todos os que tenham aspiração de justiça e aspiração de beleza, tenham nascido onde tenham nascido e tenham vivido quando tenham vivido, sem que importem nem um pouco as fronteiras do mapa ou do tempo;

a perfeição continuará sendo um aborrecido privilégio dos deuses; mas neste mundo confuso e fastidioso, cada noite será vivida como se fosse a última e cada dia como fosse o primeiro.

Eduardo Galeano – De pernas para o ar – A escola do mundo ao avesso



Negocio A by they
setembro 29, 2008, 8:36 pm
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Mas e aquelas manhãs, indo para o trabalho? Aquela súbita sensação de angústia, desgosto, desespero? A gente tenta não encarar aquele estranho vazio, mas em momentos desocupados entre o trabalho e o consumo, enquanto a gente espera, dá para entender que o tempo simplesmente não é nosso. A Máquina tem medo desses momentos. Nós também. Por isso somos mantidos o tempo todo sob tensão, ocupados, olhando lá adiante para alguma coisa. A esperança em si mesma nos conserva na linha. De manhã pensamos na tarde, durante a semana sonhamos com o fim de semana, suportamos a vida de cada dia pensando nas férias que vamos tirar dela. Nesse sentido estamos imunizados contra a realidade, entorpecidos quanto à perda das nossas energias.



Manual do Arquiteto Descalço by they
junho 7, 2008, 3:12 am
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CARTILHA – ABORDAGEM POLICIAL by Augusto J.
junho 3, 2008, 5:47 am
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ABORDAGEM POLICIAL


Esta cartilha, elaborada em 2006, faz parte da série Construindo a Cidadania, e é uma seqüência do trabalho realizado pelo CDHS (Centro de Direitos Humanos de Sapopemba), com a colaboração de diversas personalidades e entidades que atuam na defesa dos Direitos Humanos em São Paulo. inclusive o OVP-SP. A cartilha descreve o que pode e o que não pode fazer o policial quando aborda uma pessoa, quando entra em sua casa, bem como o tratamento que deve ser dispensado ao cidadão na delegacia de polícia. A cartilha também mostra quais informações são importantes para  fazer uma denúncia de abuso de poder e os caminhos para fazê-la.

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internacional de resistência a guerra irg wri by Augusto J.
maio 18, 2008, 8:42 pm
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– internacional de resistência a guerra irg wri –

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